Exposição Miguel e o Ornitorrinco

De acordo com Gisele Venâncio (2006), a arte, antes de ser um mero reflexo da realidade, é um produto social. Dessa forma, constitui-se um rico e sofisticado instrumento de produção de representações, que contribui para elaborações de sentidos, de formas de olhar e ver a realidade e sobre qual é necessário refletir. Dentro dessa perspectiva, Miguel Gontijo, em sua forma representacional, faz com que seus personagens recitem diferentes textos em diferentes geografias e circunstâncias, onde ele reafirma essa disposição com grafias ilegíveis, setas, balões de quadrinho, elementos cinematográficos e populares, citações pictóricas e literárias, procurando, assim resolver sua crise de identidade.

Além de dialogar com esse pensamento sobre o objeto artístico, Gontijo evoca no título de sua exposição – Miguel e o Ornitorrinco – uma relação com o livro de Humberto Eco, Kant e o Ornitorrinco, no qual, o autor, traça bases para analisar os mecanismos de percepção do homem através da pergunta: “por que reconhecemos um gato como tal? Por que concordamos em chama-lo assim?”. A metáfora do ornitorrinco – um animal que reúne característica de diversos outros animais – é utilizada como meio para elaborar sua reflexão e identificar os múltiplos símbolos das produções humanas, que são genealógicas, e seus significantes.