SERRO
No alto azul do Espinhaço
Cheio de ouro e cristais
Qual águia fitando o espaço
Serro de Minas Gerais
(Hino do Serro, letra de Malaquias Aguiar Dumont, música de Mozart Bicalho)
Félix Tolentino fotografa e filma o Serro. Recorta e recolhe imagens como páginas de um livro sem fim de memórias. Ele e a cidade, em íntimo colóquio, trocam segredos: o Serro revela, na poesia do olhar, a sua história mais sentida, e o fotógrafo apaixonado capta a alma serrana irisada na paisagem.
Entre o Itambé e a Pedra Redonda, aninhou-se nas montanhas o arraial pioneiro do Bom Retiro do Serro Frio, elevado em 1714 à dignidade de Vila do Príncipe e em 1838 à de Cidade do Serro.
O fundador foi o bandeirante Antônio Soares Ferreira. Polo irradiador da ocupação do Nordeste e do Norte de Minas Gerais, no ciclo do ouro e dos diamantes, Serro tornou-se um centro exuberante da civilização mineira e guardião de suas tradições.
A comarca do Serro Frio foi das mais populosas do Brasil antigo. Terra de gente culta e requintada, Serro acolhia com fina hospitalidade e vestia-se elegantemente, conforme registro do naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, em 1818. Ele observou o casario disposto em forma de anfiteatro, os jardins entre as casas, as igrejas disseminadas e “o aspecto muito agradável” do conjunto.
Primeira cidade inscrita no patrimônio histórico brasileiro, pelo IPHAN, em 1938, “ainda agora se pode adivinhar a sua grandeza”, como disse Joaquim de Salles nas admiráveis memórias em que resgata a infância no Serro.
Serro é síntese da cultura e padrão da liberdade. Em 1974, dez anos depois do golpe militar, José Aparecido de Oliveira evocou as raízes serranas e lançou um movimento nacional em defesa do patrimônio histórico da antiga Vila do Príncipe. Passados 45 anos, ecoa o chamamento de José Aparecido, primeiro ministro da Cultura do Brasil. Preservar o Serro é dar transparência à História brasileira.